Reuters Newsmaker: Bruce Flatt, CEO da Brookfield, está otimista com a recuperação após a pandemia

Atualmente, as especulações sobre o impacto econômico e as consequências da pandemia da COVID-19 tendem a ter um tom de catástrofe. Mas de acordo com Bruce Flatt, CEO da Brookfield Asset Management, existem várias oportunidades, mesmo em meio a esta crise. Os escritórios corporativos não ficarão vazios por muito tempo, diz ele, e de certa forma a pandemia do coronavírus pode deixar o mundo mais preparado para interrupções futuras.

“Isso também deve passar”, Flatt insistiu em uma entrevista abrangente à Reuters Newsmaker com Rob Cox, editor da Reuters BreakingNews. “Quando você está no meio dessas situações, elas sempre parecem ruins no momento”, disse ele, citando os ataques terroristas de 11 de setembro e a Grande Recessão de 2008 como calamidades que geraram grandes temores, mas que passaram. “Por pior que tenha sido a COVID-19, há muitos motivos para estar otimista quanto à recuperação que está por vir”, ele acrescentou. “Vemos sinais de recuperação em todo o mundo e os negócios estão abrindo em todos os lugares – e isso precisa continuar.”

Crescimento no ressurgimento das cinzas

A própria Brookfield Asset Management está em uma posição interessante em relação à economia mundial, gerenciando mais de US$ 500 bilhões em ativos que incluem negócios em infraestrutura, imóveis, energia renovável e fundos de capital privado que são parte integrante da sociedade em geral. No ano passado, a Brookfield também adquiriu uma participação majoritária na Oaktree Capital Management, outra empresa de investimento “alternativo”, especializada em títulos de empresas em dificuldades – um movimento que a cada dia parece mais promissor. (A Brookfield possui escritórios nos Estados Unidos, mas sua sede principal é em Toronto, no Canadá.)

Você pode assistir o vídeo completo da Entrevista do Reuters Newsmaker com Bruce Flatt aqui.

Com ativos investidos em tantos setores cruciais da sociedade, Flatt vê motivos para otimismo em quase todas as indústrias. “Na economia real, as coisas ainda estão difíceis”, admitiu Flatt, “mas o mercado de ações se recuperou porque os investidores estão olhando para 2021, e muitos esperam que o Fed continue injetando liquidez no mercado. O Fed ‘fez a coisa certa’ para evitar uma depressão econômica”, disse ele. “Com as taxas de juros em zero, ainda não está claro o que isso significa para avaliações de ativos e avaliações de negócios”, afirma. “O que provavelmente significa é que os múltiplos de avaliação – múltiplos de P/L e

avaliações de ativos imobiliários e imóveis – serão maiores no futuro, quando o ambiente for normalizado.”

Esse processo de normalização incluirá inúmeras falências e uma quantidade significativa de refinanciamento e reestruturação de dívidas, reconheceu Flatt, mas também disse que “oportunidades significativas” podem surgir das cinzas de todas essas atividades de refinanciamento no próximo ano. “Possivelmente, vamos conseguir o melhor resultado para todos, porque evitamos o verdadeiro colapso econômico e você terá um “balanceamento” lento de todos esses negócios no próximo ano e meio.”

Por que as empresas precisam de escritórios?

Flatt também está otimista que a rotina nos escritórios logo retornará a algo parecido com normal, e que as previsões de uma mudança permanente para home office e condução de negócios online estão erradas. “A cultura de uma empresa está relacionada às pessoas”, explicou Flatt. “A espontaneidade e a criatividade que surgem quando grupos de pessoas trabalham juntos, a troca de ideias – você precisa de um espaço físico para fazer isso”, acrescentou. “Nossa visão é que é ridículo pensar que as empresas não voltarão aos escritórios e que qualquer pessoa que pensa o contrário é ingênua sobre como uma cultura é construída em uma empresa.”

A Brookfield tem bilhões investidos em imóveis comerciais e, segundo Flatt, longe de abandonar seus edifícios, muitos clientes da empresa estão pedindo mais espaço de escritório, a fim de proporcionar distanciamento social adequado para seus funcionários. De fato, para enfrentar a crise da COVID-19 de frente, as propriedades administradas pela Brookfield estão se adaptando, disse Flatt. Os escritórios estão sendo equipados com painéis de vidro entre as mesas, por exemplo, e outras medidas – como padrões de tráfego de mão única, desinfecção regular e estações de controle de temperatura – também estão sendo implementadas. Algumas pessoas ainda podem optar por trabalhar em casa se puderem, disse ele, “mas a espontaneidade e a cultura de uma empresa precisam de um escritório.”

Shopping centers, varejo e energia renovável

Flatt está igualmente otimista em relação a outro setor que foi duramente impactado pela crise da COVID-19: o varejo. E isso inclui shopping centers, que Flatt acredita que eventualmente surgirão com um modelo de negócios híbrido viável, onde lojas físicas servem como “showrooms” e as mercadorias podem ser compradas no local, retiradas no exterior da loja ou encomendadas online.

“Cada vez mais, a combinação de varejo online e loja física é uma mistura única”, explicou Flatt. “Nossa visão é que estamos no meio disso, em uma estratégia de valor para integrar essas ações.” A Brookfield tem mais de US$ 75 bilhões investidos no varejo e, segundo Flatt, 60% da população dos EUA está a uma hora de carro de um de seus shopping centers. Alguns shopping centers sem dúvida irão falir, admitiu Flatt, mas ele também disse que a “grande estratégia” da Brookfield nos próximos 25 anos é reconstruir esses shoppings falidos em “prédios de escritórios, hotéis, apartamentos residenciais, e condomínios”, um processo que a COVID-19 já está acelerando.

A energia renovável é outra área em que a Brookfield está bem posicionada para capitalizar as tendências atuais. A empresa tem mais de US$ 48 bilhões investidos em energia eólica, hídrica, solar e outras tecnologias renováveis e Flatt disse que espera que o mercado de energia renovável continue em seu caminho de crescimento atual e, possivelmente, acelere após a saída da pandemia.

“Acreditamos que vai ocorrer uma grande aceleração das energias renováveis, porque as curvas de custo estão reduzindo tanto com tecnologia quanto com a capacidade de fabricação”, disse Flatt. “Isso permite que a energia solar, em particular, defina o preço da energia em alguns mercados.”

O otimismo de Flatt também se estende ao futuro dos negócios nos Estados Unidos, apesar da devastação da COVID-19 e dos conflitos civis que atualmente estão se espalhando pelas ruas da América. “Nossa visão não mudou”, disse Flatt. “Os EUA ainda são um grande país e se recuperarão.”

Fonte: https://www.thomsonreuters.com.br/pt/corporacoes/blog/covid19-medidas-apoiar-empresas-durante-pandemia1.html